Ar condicionado como agente de competitividade – Retrocomissionamento
As mudanças no mundo do trabalho provocadas pela pandemia, com destaque para a ampla utilização do Home Office, vêm trazendo grandes desafios para o seguimento dos edifícios comerciais. Nesse período é necessário que, os empresários e gestores do setor encontrem soluções para elevar a atratividade e a competitividade de seus empreendimentos.
Nesse artigo apresentaremos algumas ações de baixo custo relacionadas aos sistemas de ar condicionado e ventilação que serão importantes aliados nessa jornada, entregando resultados relacionados a segurança, conforto e custo operacional.
O primeiro desafio enfrentado pelo setor foi garantir a segurança dos usuários, frente ao contágio da Covid-19. A principal contribuição dos sistemas de ar condicionado nesse sentido é garantir a circulação e a renovação do ar. Muitos edifícios contam com sistemas de renovação e tratamento de ar ineficientes que precisam ser adaptados para atender às novas normas.
Com os anos de utilização de um sistema, é possível que as variáveis de conforto térmico projetadas não estejam mais sendo entregues aos usuários, devido a mudanças no padrão de carga térmica do edifício.
Outro ponto muito relevante é o custo de operação do sistema de HVAC. Os sistemas de HVAC são uns dos principais consumidores de energia elétrica em edifícios comerciais, e por serem indispensáveis, os níveis de eficiência energética desses sistemas podem se apresentar como vantagem competitiva ou como uma âncora de custos.
Partindo dessas premissas, é necessário relembrar que o ponto inicial para garantir o correto funcionamento dos sistemas, integrando qualidade do ar, conforto térmico e eficiência energética, é a execução de um processo de manutenção preventiva e preditiva eficiente, com o cumprimento integral do PMOC.
Problemas simples, como por exemplo, a falta de limpeza dos filtros de ar e serpentinas, podem prejudicar a qualidade do sistema nos três pontos abordados. (1) Filtros sujos são menos eficazes em prevenir a propagação de doenças. (2) Filtros sujos aumentam a perda de carga na condução do ar, podendo dificultar a chegada do ar condicionado a pontos mais distantes, prejudicando o conforto térmico dessas áreas. (3) A sujeira nas serpentinas de condensadores e evaporadores atrapalham a troca de calor, comprometendo o funcionamento básico do sistema e elevando o consumo energético.
Assim sendo, a manutenção é fundamental e insuperável.
Entretanto, em muitos casos ela não é suficiente. Na manutenção não dá conta de corrigir mudanças no padrão de operação e na carga térmica do edifício, podendo assim, prejudicar a eficiência energética do sistema.
A proposta para elevar a qualidade e a eficiência energética do sistema deve ser iniciada com uma análise detalhada do projeto e do sistema atual, podendo essa análise gerar propostas de projetos de retrofit ou de retrocomissionamento do sistema.
O Retrofit é um tipo de projeto que tem como característica a substituição total ou parcial de equipamentos e sistema. Como exemplos rápidos de retrofit podemos citar:
1 – Retrofit com mudança de sistema: Substituição de sistemas de condicionamento com Selfs a água (muito utilizados entre as décadas e 80 e 90), por modernos sistemas de VRF de condensação a água.
2 – Retrofit com mudança de equipamentos: Modernização de Centrais de Água Gelada, substituindo chillers, bombas e outros componentes antigos, por modelos mais novos e eficientes.
Essa prática é altamente recomendada em várias situações e seus resultados vêm sendo publicados há décadas por órgãos competentes. Entretanto, por ser calcada na substituição de equipamento e sistemas, essa solução não pode ser considerada como uma resposta de baixo custo. O investidor deve ter em mente aporte financeiro necessário, considerando o Payback que esse projeto irá proporcionar devido à economia de energia.
Um outro tipo de projeto, menos conhecido e de mais baixo custo, mas com grande potencial para elevar a competitividade de edifícios comerciais é o retrocomissionamento.
Segundo o Guia prático sobre sistemas de água gelada – 2017 do Ministério do Meio Ambiente “O retrocomissionamento é o processo de comissionamento a ser realizado em edifícios existentes, que consiste em uma investigação detalhada do sistema, incluindo projeto executivo, instalação e condições de operação e desempenho atuais, a fim de identificar problemas e otimizar o sistema de ar condicionado do edifício.”
Esse processo se diferencia do retrofit por evitar soluções baseadas nas substituições de equipamentos, apresentando resultados significativos com ações de investimento menor.
Conforme indica o Guia, o processo de retrocomissionamento inicia-se com uma análise, que deve resultar em um relatório de desempenho e sustentar propostas de melhoria para o sistema.
No que tange ao projeto, o primeiro ponto é verificar se a versão mais atual do projeto executivo está compatível com as instalações existentes e com as demandas atuais do edifício.
Essa avaliação passa por uma análise da carga térmica atual do edifico, do dimensionamento da renovação de ar, das características de sistemas como distribuição de ar e circuitos hidrônicos, do tipo e do tempo de operação, da idade e conservação das máquinas, das funcionalidades do sistema de controle e automação, dentre outros.
A proposta de projeto deve então ser concebida a partir da análise desse conjunto de fatores, envolvendo substituições pontuais de equipamentos, adequações nos sistemas de controle e automação, ajustes e balanceamentos, novas rotinas de manutenção e de operação.
Após as propostas do projeto serem analisadas e aprovadas pelo investidor, inicia-se a implementação. Nessa etapa se planeja e executa as sugestões da etapa anterior, o que pode envolver processos de manutenção, mudanças na configuração do sistema, balanceamentos, implementações de sistemas de controle, automação e pequenas obras.
Terminada a implementação e os testes, outra etapa característica desse processo é a operação assistida. Nesse período, os parâmetros do sistema devem ser acompanhados, avaliados e ajustados em várias fases até a obtenção dos melhores parâmetros energéticos e de conforto.
Com a conclusão e entrega dos serviços, os projetos, manuais e demais documentos da instalação devem ser atualizados e aprovados junto aos órgãos competentes. Os resultados obtidos devem ser apresentados ao cliente e a equipe de Operação & Manutenção deve ser treinada para operar o novo sistema, evitando retrocessos.
Antes de iniciar esse projeto, a empresa responsável deve avaliar se a edificação terá vantagens reais na implementação, ou seja, se o prédio se enquadra no perfil, separando os edifícios em que o Retrocomissionamento acarretará ganhos expressivos dos edifícios onde projetos de Retrofit são mais indicados.
Os projetos de Retrocomissionamento podem vir a ser uma nova tendência, trazendo resultados substanciais sem a necessidade de grandes investimentos nem interrupções de funcionamento dos edifícios.
Segundo relatório produzido pelo departamento de Padronização de Métodos de Projetos Energéticos Norte Americano – U.S. Department of Energy Uniform Methods Project (UMP) publicado em Setembro de 2014, que avaliou mais de mil projetos de Retrocomissionamento, esse tipo de projeto tem capacidade de reduzir entre 5% e 20% a conta energética total dos edifícios, tendo payback médio abaixo de dois anos. Uma boa oportunidade de investimento.
Eng. Rafael de Melo Felipe
A.Salles Engenharia
31/03/2022